Onde há vida, há enredo: Ilan Brenman, o escritor que reinventa o cotidiano
- Bianca Fávero
- 5 de set.
- 3 min de leitura

Alguns dizem que filhos são o reflexo dos pais. Ilan, no auge da sua infância, observava os hábitos da família e, neste gesto simples, descobriu uma paixão que jamais o deixaria. Nas mãos dos pais, blocos de folhas protegidos por capas coloridas despertavam a curiosidade do pequeno. O cheiro único das páginas, mistura de pó e tinta das letras impressas, revelava que aquele objeto era mais do que um livro, mas um convite silencioso para atravessar fronteiras e descobrir outros mundos.
O despertar como leitor foi só o começo para Ilan Brenman. Aquele menino encantado pelas páginas viria a se tornar um dos maiores autores de literatura infantojuvenil do Brasil, traduzido em diversos idiomas, vencedor do prêmio Jabuti de 2024 e lido por gerações. Até chegar nesse destino, contudo, o caminho foi repleto de encontros.
Filho do casal de argentinos Mario e Diana, nascido em Israel em 1973 e criado no Brasil desde os 6 anos, Ilan cresceu com amor por diferentes culturas, que, posteriormente, se tornaria uma das inspirações para títulos como A amizade eterna e outras vozes da África, Viagem ao redor do mundo em 37 histórias e Refugiados, uma narrativa visual com o deslocamento de várias famílias por tempos e espaços diferentes.

Apesar da formação superior em Psicologia, além de mestrado e doutorado em Educação, Brenman sabia que sua verdadeira vocação era escrever. Aos 18 anos, durante um estágio no clube A Hebraica, uma menina pediu que contasse uma história. Diante da confissão de que não sabia nenhuma naquele momento, ela respondeu com uma naturalidade desarmante: “Então, inventa!”. Foi ali, entre aquela primeira criação e a sequência de narrativas que faziam os olhos dos ouvintes brilharem, que Ilan percebeu que queria viver de livros.
Esse amor encontrou sua primeira expressão concreta em O Pó do Crescimento, história que escreveu ainda com 18 anos e que, em 2000, se tornaria seu primeiro livro publicado. A princípio, a vida de escritor não foi nada fácil. “Todo começo de carreira em qualquer área é difícil”, ele afirma. Mas a literatura, diz, tem um desafio a mais: ninguém conhece seu trabalho, e cada manuscrito precisa encontrar a editora certa. Ele lembra dos muitos nãos recebidos no início, mas nunca se deixou abater.
O trabalho de Brenman foi nutrido por referências literárias clássicas brasileiras que povoavam a estante de casa, como Ruth Rocha, Eva Furnari, Pedro Bandeira, Mirna Pinsky e Mary e Eliardo França. Todos eles, inclusive, se tornaram grandes amigos, nas palavras do autor. Somado a isso, está um processo criativo organizado pela escrita intensa e experiências de viagens.

Obras como Até as princesas soltam pum, Papai é meu, Segredos, Pai Cabide, entre outras de maior sucesso, nasceram dessa combinação — contos que brotam da rotina, do familiar, das filhas, do entorno, mas que ganham vida própria com a literatura que tanto ama.
Diferente de muitos autores que pretendem transmitir mensagens diretas aos leitores, o cerne da arte de Ilan está na produção de histórias que emocionam, divertem e, inevitavelmente, passam conteúdos. “É o contrário. Nunca é a mensagem, é a história”, explica. Cada narrativa de seus livros é, ao mesmo tempo, invenção e reflexo de seu mundo, uma forma de compartilhar experiências sem abandonar os devaneios da imaginação.
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