Skoob: o ‘Letterboxd literário’ que conquistou leitores da Gen Z
- Bianca Fávero

- há 2 dias
- 4 min de leitura
Com mais de 10 milhões de usuários, a plataforma impulsiona a leitura ao combinar desafios, troca entre leitores e senso de comunidade

Ao terminar um livro, ou mesmo durante a leitura, a necessidade de colocar para fora emoções, inquietações e teorias se torna quase inevitável. Para muitos jovens, especialmente da Geração Z, essa troca deixou de acontecer só em conversas privadas e passou a ganhar espaço em plataformas que transformam a leitura em experiência coletiva.
E é nesse cenário que o Skoob ganha um destaque muito parecido com o que o Letterboxd representa para o cinema: uma rede social simples, centrada em avaliações, listas e comentários. Assim como os cinéfilos correm para registrar as impressões dos filmes assistidos, mais de 10 milhões de usuários usam o aplicativo como uma espécie de diário público de leitura.
Foi justamente nessa busca por um “Letterboxd literário” que Helena Pacini, de 22 anos, se deparou com a icônica coruja azul do Skoob. Ela já havia visto a plataforma no X (antigo Twitter), mas só decidiu criar uma conta depois de entrar em grupos de leitoras que compartilhavam seus usuários.
“A comunidade é o que eu mais gosto. Às vezes, eu acho um livro maravilhoso e quando vejo as resenhas, o pessoal apontando críticas que não tinha notado antes, posso acabar concordando. Então, um livro que para mim era 5 estrelas, vira 4 ou 3,5”, afirma.
Essa perspectiva se repete entre outros jovens leitores, como Giovanna Prado, de 24 anos, que também encontrou no Skoob um lugar para desabafar sobre o que lê e, principalmente, ser ouvida. Apaixonada por livros desde a infância, ela começou publicando resenhas no próprio Instagram, mas sentia falta de uma troca mais direta.
“A cada dez resenhas que eu postava, vinha um comentário ou outro. No Skoob, mesmo que ninguém curta ou comente, eu sei que alguém leu. E isso faz muita diferença para quem não tem muitos amigos leitores”, explica.
Apesar dessa comunidade ser, hoje, o grande diferencial do Skoob, esse não foi o ponto de partida para sua criação. Viviane Lordello, cofundadora do aplicativo, conta que a ideia nasceu em 2009 com a intenção de criar um espaço básico para classificar os livros lidos.
“Na época, não existia um lugar onde pudéssemos organizar o que estávamos lendo, descobrir novos títulos por afinidade e conversar com pessoas que tinham o mesmo interesse. Tudo acontecia de forma muito dispersa”, relembra. O nome Skoob surgiu da brincadeira com a palavra books ao contrário — um convite, segundo ela, para olhar a leitura de um jeito novo.
Com o tempo, Viviane e o cofundador Lindenberg Moreira perceberam que os usuários buscavam mais do que uma estante virtual. “As pessoas queriam pertencimento, troca, um lugar onde a leitura não fosse solitária”, comenta. Grupos, resenhas, desafios e até trocas de livros começaram a surgir organicamente, transformando o aplicativo em um ponto de encontro.
“A comunidade é o coração do Skoob. O que transforma a experiência é justamente a troca: ver quem está lendo o quê, comentar, participar de grupos, receber e oferecer recomendações”, ressalta.
Redes sociais podem inspirar a leitura?
Há três anos no aplicativo, Giovanna Souza, 22 anos, revela que a possibilidade de registrar e controlar cada leitura a ajudou a manter o hábito. “As resenhas e avaliações servem como um lembrete de como me senti”, salienta. Além disso, no feed da coruja azul, a estudante explora resenhas e comentários para buscar indicações de novos livros.
Assim como ela, a bookgrammer Isabella Oliveira (@girassoisliterarios), 20 anos, também encontrou no Skoob um espaço que dialoga com sua relação íntima com a leitura, que começou ainda na infância, quando folheava livros antes mesmo de saber ler. “Depois que aprendi, nunca mais parei. Não consigo ficar uma semana sem pegar um livro”, lembra.
Isabella conheceu o aplicativo há dois anos, período em que também criou seu próprio blog, Girassóis Literários. No Skoob, registrava reações durante a leitura, anotava trechos favoritos, fazia metas e acompanhava seu ritmo. “Usava quase todo dia. Amava postar lá e surtar, para registrar mesmo.”
Embora tenha reduzido o uso do recurso de progresso, em parte pela pressão de ver porcentagens avançando lentamente em livros maiores, ela reconhece o quanto a plataforma reflete sua identidade como leitora. “Sou muito eclética e, mesmo que eu já tenha lido muitos livros na vida, esteja com a lista cheia no Skoob, ainda tem muitos que eu continuo adicionando nas metas”, admite.
Para Isabella, porém, o diferencial da plataforma está na forma como ela conversa com o cotidiano dos jovens e acompanha seus hábitos digitais. “A gente passa a maior parte do tempo nas redes sociais, então ter uma rede focada em leitura incentiva muito. Li muitos livros porque vi outras pessoas postando sobre eles, isso me motivou demais, e tenho certeza de que pode incentivar outros também”, pontua.
No fim, o que prende a influenciadora e outros usuários a aplicativos como o Skoob não é apenas o controle das leituras, mas sim a sensação de pertencimento. “Só quem é leitor sabe explicar a sensação [...] Eu senti isso quando li Jogos Vorazes, quando percebi que outras pessoas estavam sentindo o mesmo. Você enxerga um pedacinho da cada um ali, é inexplicável ter essa troca”, relata.









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