A era da inteligência artificial em premiações literárias

Após escândalo em 2023, o "Oscar da literatura" do país reforça posição contrária ao uso de IA e abre debate sobre o futuro da criação

Quais os limites entre tecnologia e criação artística? 

Desde que a obra Frankenstein, de Mary Shelley — ilustrada pelo designer Vicente Pessôa com imagens geradas por inteligência artificial — foi desclassificada do Prêmio Jabuti em 2023, a Câmara Brasileira do Livro (CBL), organizadora da premiação, tem se posicionado sobre o tema.

Na 67ª edição do evento, em 2025, a presidente da CBL, Sevani Matos, reafirmou que a entidade mantém a proibição de inscrições de livros ou capas feitos com IA.

“Nós não aceitamos inscrições de livros ou capas que foram desenvolvidos por inteligência artificial. Nosso papel na CBL é sempre defender o trabalho dos autores e garantir que as editoras possam remunerá-los de forma adequada”, afirmou.

O debate sobre o uso de ferramentas tecnológicas na criação literária não se restringe ao Jabuti. Em julho de 2025, a editora Kotter, de Curitiba, cancelou seu prêmio literário após descobrir que parte das inscrições havia sido feita com textos gerados por inteligência artificial. A organização afirmou que o uso dessas ferramentas “fere o princípio da autoria e da criação humana”, destacando a urgência de se discutir limites éticos e legais para a participação de obras criadas por IA em competições culturais.

A postura de cautela da CBL diante de um tema que ainda carece de regulação e consenso no meio literário é clara. Para a instituição, estes espaços devem continuar sendo uma oportunidade de valorização do trabalho humano, mas sem ignorar o avanço das novas tecnologias.

“Enquanto não houver uma lei federal que regule a utilização de IA, nós não iremos premiar livros ou capas feitas por estas ferramentas. Porém, quando houver uma regulação, pode-se criar uma categoria para inteligência artificial no Jabuti”, concluiu Sevani.