‘Eventos como esse fazem o livro iluminar’, diz Marcos Martinz em festival literário em SP
- Bianca Fávero

- 21 de nov.
- 3 min de leitura
Autor de ‘Até que a Morte nos Ampare’ participou da FliSampa, ao lado de outros escritores como Pedro Bandeira e Valter Hugo Mãe

Quem gosta de ler sabe a sensação de tocar em um livro e sentir o cheirinho das páginas ao abrir e pensar: “Nossa, essa história vai ser boa!”. Ir em eventos literários, então, é o paraíso! São muitos os motivos, desde as mesas com capas coloridas e aventuras prontas para serem vivenciadas, estandes de editoras para garantir a compra mensal por um preço acessível, a chance de encontrar escritores famosos ou até sair um pouco da rotina.
Mas, para além de atrair públicos já apaixonados por esse universo, as feiras também podem acender ao menos uma pequena fagulha de interesse naqueles que ainda acreditam que a literatura é só mais uma “matéria chata da escola”. Afinal, há livros para os mais diversos gostos, basta encontrar aquele que faça você se sentir em casa.
Em meio aos compromissos mais aguardados, a Bienal do Livro se destaca pelo alcance de público desde 1983. Alternando o palco anualmente entre as grandes metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro, a edição de 2025 bateu recorde de 740 mil pessoas na cidade maravilhosa — o maior número desde estreia. O pavilhão carioca recebeu mais de 700 editoras e encerrou a temporada com saldo de 6,8 milhões de exemplares vendidos, 23% a mais que em 2023. O perfil dos visitantes também evidencia mudanças, já que, no ano anterior, 43,3% do público era formado por jovens de 18 a 24 anos.
Com as repercussões do sucesso da Bienal no BookTok, inclusive, os organizadores promoveram a primeira noite exclusiva da “Pré-estreia: Bienal Para Você”, uma iniciativa desenvolvida em parceria com o TikTok, em 2025.
No total, dez mil convites foram distribuídos gratuitamente. O encontro contou com a presença de Conceição Evaristo, Selton Mello, criadores de conteúdo das redes sociais, fãs e autores brasileiros.
Para combinar com a energia jovem da Bienal, o espaço também entrou em clima de reality show com o “Match Literário”. Inspirada nos clássicos programas de namoro, a dinâmica colocou o público para descobrir seu par ideal literário com a ajuda de autores convidados.
Outro evento que movimentou o estado no final de julho foi a 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). A tradicional homenagem desta edição foi para o poeta Paulo Leminski, famoso pelo romance experimental Catatau. Entre as características mais marcantes do curitibano, estão os trocadilhos carregados de ironia e a influência dos haicais japoneses — breve composição com três versos, geralmente com um padrão da métrica 5-7-5.
Confira um poema de Leminski
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Pouco antes da celebração na Flip, o calendário literário paulista também seguiu aquecido com a Feira do Livro no Pacaembu, em São Paulo. Em meio à arquitetura icônica do estádio e à atmosfera acolhedora dos encontros ao ar livre, o evento gratuito aproximou o público com oficinas, debates, lançamentos e atividades para jovens e famílias.
João Zogobi, 18 anos, foi um dos jovens a se perder entre os corredores das editoras participantes em busca de livros mais baratos. Para ele, o fator que mais chama atenção em eventos como esse é o poder de democratização da literatura. “O hábito da leitura por si só é um ato de resistência. Compartilhar esse hábito e torná-lo mais acessível nos motiva a participar”, ressalta.

Além disso, a capital paulista também recebeu a FliSampa (Festival Internacional Literário de São Paulo), em agosto. Com programação gratuita espalhada pela cidade, a celebração reuniu estudantes, educadores e toda a comunidade para fomentar a leitura e a formação de novos leitores. O grande palco foi o CCSP (Centro Cultural São Paulo), local em que foram realizados encontros com autores, como Pedro Bandeira e Valter Hugo Mãe, contação de histórias, saraus, oficinas e apresentações culturais.
Durante o festival, o jovem Marcos Martinz, escritor de Até que a Morte nos Ampare, resumiu o espírito desses encontros ao Capítulo Z: “O livro tem o poder de brilhar na prateleira, mas a partir do momento em que você o pega e compartilha, ele deixa de brilhar para iluminar. Eventos como esse fazem o livro iluminar, dar caminho”.










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