Hots são sobre ‘libertar o desejo feminino de forma segura’, diz autora de ‘Ignis Lacrimosa’
- Bianca Fávero

- 30 de nov.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de dez.
Famosa por romantasias best-sellers na Amazon, Helena Lopes fala com exclusividade ao Capítulo Z sobre escrita independente e conexão com leitoras

“A literatura salvou a minha vida”. A autora roraimense Helena Lopes, de 28 anos, afirma isso sem hesitar, ao revisitar o instante em que as páginas se tornaram um porto seguro. Inspirada pelo irmão, também escritor, ela começou tímida nos poemas; depois vieram as fanfics, até que a vontade de criar os próprios universos se tornou grande demais para caber apenas no rascunho. Aos 18 anos, publicou o primeiro livro de forma independente na Amazon, ainda sem imaginar que aquela estreia abriria caminhos para se tornar uma best-seller lida por milhares de pessoas.
Com a mitologia grega reimaginada na saga As Rainhas do Olimpo e uma sensibilidade que arrancou lágrimas em A Crisálida Dourada e Ignis Lacrimosa, Helena se firmou como uma das vozes mais intensas da romantasia nacional atual. “Às vezes eu realmente não tenho noção de quão longe minhas histórias chegaram. É inacreditável”, admite, em entrevista exclusiva ao Capítulo Z.
Para a jovem, escrever é se entregar ao inesperado, mas com um toque de “pó de pirlimpimpim”. Nada é guiado por esquemas rígidos ou capítulos planejados e, por isso, ela compara seu dom ao processo de jardinagem. “A ideia começa como uma semente e aí ela simplesmente se desenvolve a algo que é indomável. Então, eu coloco no papel para ter um pouco de alívio dessa pressão”, conta.
Mais do que o número de vendas, o que move a autora está mais relacionado à comunidade que cresceu ao redor de suas obras. Em um grupo dedicado às leitoras, ela acompanha reações em tempo real, recebe comentários sobre os personagens, ri com teorias e se emociona com o carinho que as participantes demonstram. Entre as atividades promovidas nesse espaço está a Leitura Coletiva, na qual são definidos capítulos semanais para serem lidos e discutidos posteriormente.
“As leituras são importantes para que ninguém se sinta sozinho”, ressalta. Helena lembra que, quando era mais jovem, sonhava em ter alguém com quem compartilhar o encanto por um livro. Agora, vê suas leitoras encontrando exatamente essa rede de apoio que ela mesma não teve. “Eu acredito que aumenta o interesse de você ler mais livros e eu espero que isso seja só o começo para minhas leitoras lerem ainda mais autores independentes nacionais, porque a literatura brasileira merece um pouco mais de atenção”, completa.
Sensualidade sem medo
Embora seus livros abracem batalhas épicas típicas da romantasia, é nas cenas mais quentes que Helena encontra um dos pontos de maior conexão com suas leitoras. Seus personagens masculinos, muitos deles marcados pela personalidade misteriosa, carregam uma intensidade que transborda sensualidade. Hades, de A Rainha Prometida, por exemplo, nasce da escuridão: imponente e envolto por uma aura que mistura perigo e devoção.
Essa é a combinação perfeita para o desenvolvimento de um hot, aquelas cenas de teor sexual (+18) nos livros, que exploram a luxúria, intimidade e conexão entre os personagens. O termo se popularizou com o sucesso de obras como 50 Tons de Cinza, de E.L. James, mas nem todo livro com hot precisa ter a trama centrada apenas no sexo.
Se por um lado esse conteúdo conquista espaço entre leitoras ávidas por representações sinceras do desejo feminino, por outras, há críticas de quem ainda enxerga o hot como algo inferior dentro da literatura. A roraimense, no entanto, segue na direção oposta desse preconceito e enxerga a sensualidade como parte orgânica do enredo. “Tento incluir de uma forma que faça sentido, que seja o progresso natural de um relacionamento”, explica.
Helena confessa, inclusive, que se diverte escrevendo essas passagens. Antes mesmo de construir mundos mitológicos e fantásticos, ela já explorava romances contemporâneos classificados como eróticos, algo que, para ela, nunca foi um tabu. A familiaridade com o gênero a ajudou a moldar um estilo que mistura intensidade, segurança e cuidado com os limites de cada personagem para que as leitoras se sintam confortáveis durante a experiência de leitura.
“Quando comecei a escrever, eu era muito nova — mas maior de idade — e isso me deu uma oportunidade de estudar, me informar sobre saúde sexual, sobre o que é seguro e consensual”, lembra. A escritora também destaca que o hot abre uma porta importante para discutir sobre a liberdade do desejo feminino. “Esses elementos foram fundamentais para eu me tornar a mulher que sou hoje. Quero que minhas leitoras se sintam acolhidas, animadas, e que encontrem um espaço onde o desejo delas não seja motivo de vergonha”.
A paixão também atravessa a escrita de Helena por meio da inspiração que encontra em seu marido. “Ele me deu o amor que eu sempre quis ver nos romances”, diz. É esse afeto vivido no cotidiano que transborda para seus personagens masculinos, refletidos em gestos, falas e maneiras de amar. “Agora escrevo com naturalidade, porque finalmente vivo aquilo que sempre desejei quando lia”, conclui, emocionada.










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