Presença feminina no Prêmio Jabuti 2025
- Larissa Vidal

- 11 de nov.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de nov.
Enquanto o principal prêmio literário do país exibe diversidade no júri e nas categorias, a ausência de mulheres entre os finalistas de Romance Literário reacende o debate sobre representatividade e visibilidade feminina

A notícia de que apenas homens disputaram a categoria Romance Literário do Prêmio Jabuti 2025 acendeu um alerta no meio literário. Chico Buarque, Marcelino Freire, Jeferson Tenório, Alberto Mussa e Tony Bellotto — vencedor da categoria com o livro Ventos de Setembro — compõem a lista divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), sem nenhuma mulher entre os finalistas.
Dentre as 23 categorias da 67ª edição da premiação, quatro delas não tiveram escritoras na fase final. Do total de livros e projetos indicados, 78 foram escritos, traduzidos ou organizados por homens. As mulheres assinaram 47 obras finalistas, mas 12 foram colaborações com outros homens.
Apesar de representarem uma parcela expressiva do mercado editorial, as mulheres foram minoria justamente nas categorias consideradas mais ‘literárias’, como Crônica e Escritor Estreante - Romance. Apenas Laís Araruna de Aquino apareceu entre os finalistas de Conto, por Nós que Nos Amávamos Tanto. Por outro lado, elas dominaram o cenário em História em Quadrinhos, Educação e Fomento à Leitura.
Mesmo diante desses números, a Personalidade Literária homenageada nesta edição é uma mulher: Ana Maria Machado, um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea, com trajetória marcada pela defesa da leitura, da memória cultural e da democratização do livro. A escolha reforça um compromisso já assumido pela Câmara Brasileira do Livro, organizadora do evento, em ampliar a diversidade nas honrarias.
Em edições anteriores, a presença feminina chegou a ser um dos destaques do prêmio. Em 2022, por exemplo, cerca de 80% dos livros indicados na categoria foram escritos por mulheres, e o reconhecimento ficou com O Som do Rugido da Onça, de Micheliny Verunschk. Nos anos seguintes, autoras continuaram a figurar entre os finalistas, embora em menor número. E, atualmente, três anos depois desse marco, o cenário volta a despertar questionamentos sobre a representatividade feminina em uma categoria de prestígio da literatura brasileira.
A 67ª edição do Prêmio Jabuti recebeu mais de 4.500 inscrições, distribuídas entre 23 categorias. No Eixo Inovação, a autora Angélica Lopes, finalista na categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior, reflete sobre o poder de ser uma escritora mulher e de inspirar outras leitoras dentro e fora do país. “Esse livro construiu uma carreira inesperada para mim. Lancei em 2023 e hoje ele já está presente em 12 países. Meu público leitor é composto por 90% de mulheres, e quando mulheres constroem narrativas femininas, elas se unem”, afirma.
Em entrevista ao Capítulo Z, Sevani Matos, presidente da CBL, afirma que a composição do júri do Jabuti é feita de forma diversa e criteriosa, levando em conta a especialidade de cada profissional em seu respectivo eixo de avaliação. “Em 2025, tivemos um corpo de jurados bastante equalizado. De 66, 32 são mulheres”, destaca Sevani.
Com um júri formado por perfis diversos, o Jabuti reflete parte das transformações que vêm ocorrendo no universo da literatura nacional, ainda que o equilíbrio entre autoria e reconhecimento siga sendo um desafio. Essa multiplicidade de olhares é o que sustenta o processo de avaliação e reforça o papel de juradas e jurados na valorização da literatura feita por mulheres.
Em meio às vozes que compõem o corpo avaliador, há o reconhecimento da importância dessa pluralidade na hora de julgar. Alessandra Colasanti, jurada da categoria Conto em 2025, destaca a atenção que dedicou à leitura das obras inscritas e o papel representativo de estar ali. “Tivemos que selecionar 300 obras na categoria, e eu tive muito cuidado em ler e indicar as enviadas. Escolhi obras tanto de homens quanto de mulheres, e vejo a importância de ter um júri diverso e inclusivo para que, por exemplo, eu, como mulher jurada, possa representar o meu próprio grupo”, afirma.
Com mais de seis décadas de história, o Prêmio Jabuti segue sendo um termômetro de reconhecimento literário no país. Em um cenário de constante transformação, manter o compromisso com a diversidade e abrir caminhos para novas vozes é o que garante que essa tradição continue viva e cada vez mais representativa.










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